quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mergulho em Deus

  Uma das marcas incontestáveis do cristianismo contemporâneo é a superficialidade; talvez seja esta a marca de nossa geração e para além da própria fé, estejamos tecendo nossa história, nos mais diversos níveis, com os fios frágeis da transitoriedade constante, sem nunca aprofundar em coisa alguma. Mas quando o assunto é vida com Deus, o que se requer de nós é uma postura que nos mova da superfície para as profundezas da vida espiritual. 
    Gideão, personagem que muito contribui sobre o assunto em questão, tem parte de sua história narrada em Juízes 6.11-27 e nesse episódio, o retrato pintado era de um homem que se furtou o prazer e o direito de viver intensamente sua fé, pelo simples fato de se permitir ser dominado por seus medos, seus fantasmas.  Deus queria usá-lo para livrar Israel das mãos dos midianitas, mas seria necessário, antes de tudo, um mergulho em Deus e a ruptura com as distorções existências que lhe marcavam. Quero destacar pelo menos cinco questões relevantes nesse processo:
     Primeiro que sair da superficialidade só foi possível para Gideão, na medida em que seus medos foram superados. Ele vivia se escondendo, buscando refúgio em um velho carvalho, evitando possíveis confrontos (v.11). Foram sete anos de anulação de todo o seu potencial. Nossos medos nos impedem de avançar. É preciso sair do refúgio de nossos “carvalhos”, enfrentar a vida na dependência de Deus e suplicar ao Espírito Santo que nos revista de ousadia, de coragem. Não é possível construir nada relevante, se somos o tempo todo governados por nossos assombros, ao invés de soberanamente ser conduzidos por Deus.
     Segundo que Deus precisou corrigir uma distorção em sua auto-imagem. Deus o via como um “homem valente” (v.12), mas ele se via como um covarde. A forma como nos enxergamos muda tudo. Se avançamos, se recuamos, está ligado de certo modo à nossa auto-imagem. Quando Gideão se observava, só via desvalor, fracasso. É preciso se enxergar tomando emprestadas as “lentes” de Deus, pois ele nos vê, como pessoas cheias de valor e potencial, pois fomos criados à sua imagem e semelhança. Não adianta focar no olhar alheio e esperar que todos te vejam como alguém de valor, se você mesmo não se vê desta maneira. A forma como você se enxerga, molda seu caráter. Gideão precisou dar crédito ao Senhor e acolher como verdade absoluta o olhar divino que lhe conferia coragem – “homem valente”.
     Terceiro que Gideão precisou aprender a valorizar o que tinha em mãos. O Senhor disse a ele: “vai nesta tua força” (v.14). Ele tenta contra-argumentar dizendo: “minha família é a mais pobre... e eu o menor na casa de meu pai”. Veja, a melhor pessoa que Gideão poderia ser era Gideão. Não importa que história de família temos, se somos pobres ou ricos, se moramos em uma mansão ou temos uma casa simples e financiada, se somos negros ou brancos, se falamos vários idiomas ou mal dominamos o nosso; o que importa é que não podemos fugir de quem somos e é exatamente a partir de quem somos e do que temos em mãos que Deus quer nos usar. Não precisamos ser outra pessoa e nem ter o que os outros têm para ir mais longe. O milagre de Deus começa a partir do que é realidade presente em nós.
     Quarto que Gideão precisou desconstruir todas as suas falsas confianças e estabelecer uma confiança plena no poder e na graça de Deus. O Senhor lhe disse: “Eu hei de ser contigo e tu ferirás aos midianitas como a um só homem”. Se Gideão tinha alguma garantia de vitória, esta não estava apontada para si mesmo, mas para o Senhor. Nossas vitórias se estabelecem a partir de nossa fé, nossa esperança, nossa confiança em Deus. Viver desconfiado, governado por dúvidas, questionamentos, inseguranças não te permitirá sair da superfície. É na medida que creio no sobrenatural, que creio no poder do amor de Deus por mim, é que posso dar o passo seguinte e mergulhar mais fundo nas experiências espirituais.
     Por último, se queremos mergulhar e sair da superfície espiritual, assim como Gideão, vamos precisar restabelecer nosso culto pessoal a Deus. A Bíblia afirma que “Gideão edificou ali um altar ao Senhor” (v.24). Deus está à procura de adoradores e não de expectadores ou platéia. Deus não realiza uma obra através de nós, sem antes fazer uma obra em nós. Não podemos construir nenhuma expectativa de romper com a superficialidade, se somos incapazes de romper com o comodismo, com a preguiça e levantar nossos altares caídos. É preciso colocar fogo no altar, ou seja, é preciso aquecer nosso coração e expressar uma adoração que o Senhor é digno de receber. Eu não me refiro aos cultos coletivos, focados nos templos, mas ao que acontece na privacidade de nossa casa, nosso quarto. Nosso culto pessoal precisa ser restaurado!
     Podemos continuar repetindo a história de uma fé superficial ou podemos mergulhar mais fundo. A escolha é nossa!

“E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.” Jeremias 29:13

“A maior ameaça para a igreja não é o anticristo ou anticristianismo, mas um cristianismo vivido na superficialidade.”

Pr. Hilquias


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