terça-feira, 23 de novembro de 2010

Procrastinação – um jeito sutil de adiar a vida!

    A relação do homem com o tempo sempre foi um dilema. Existem aqueles que são escravos do imediatismo, da impulsividade e por conta dessa postura cometem erros bárbaros e atraem para suas vidas, circunstâncias caóticas, dores profundas; mas existem aqueles que pelo temor do erro, vivem pisando no freio e adiando várias tomadas de decisão, como que tentando evitar o fracasso ou se esquivar de responsabilidades. Às vezes, os que assim procedem, sustentam tal prática no discurso da prudência. Mas até que ponto a evitação da vida, a postura esquivante, é prudência ou pecado? Procrastinar é deixar para depois, adiar, delongar, demorar, protelar, prorrogar. Ser prudente é necessário, mas viver adiando a vida é pecado contra nós mesmos, é sucatear o privilégio de viver, é desvalorização do tempo que recebemos de Deus.
    O tempo não volta e conjuntamente muitas oportunidades se perdem. A vida inclui riscos! Quem não quer correr riscos não deve projetar viver, pelo menos, não uma vida abundante, satisfatória. Como afirma Søren Kierkegaard: “Arriscar-se é perder o equilíbrio por algum tempo. Não se arriscar é perder a vida” Há um grande número de pessoas que se perdem diariamente, que sem perceberem morrem lentamente, deixando sempre para depois uma decisão que deveria ser tomada com urgência.
     A Bíblia diz que “a esperança adiada faz o coração ficar doente, mas o desejo realizado enche o coração de vida”. (Provérbios 13.12). Adiar quando se tem certeza da decisão a ser tomada é matar a esperança, é buscar o adoecimento. Normalmente o que nos falta não são convicções, mas coragem para assumir riscos e confiados no poder de Deus dar um passo de fé em direção a um sonho.
     Existem aqueles que discursam esperar o tempo certo. Mas que tempo certo é esse? Nem sempre o tempo será favorável para semearmos, para começarmos algum projeto, para iniciar um relacionamento, para se ter um filho, mudar de emprego, comprar um imóvel etc. Em Eclesiastes 11.4, Salomão diz que: “Quem fica esperando que o vento mude e que o tempo fique bom, nunca plantará, nem colherá nada.”
     Haverá momentos que a única garantia que teremos será a benção da companhia de Deus e nada mais, como Abraão ao ser chamado a sair da sua terra, do meio da sua parentela e caminhar no desconhecido, rompendo com a comodidade e o conforto. O tempo nem sempre se apresentará como ideal, mas, ainda assim, será preciso semear. De certa forma, procrastinar é deixar de colher o que Deus tem para sua vida. “Há tempo de nascer, e tempo de morrer” afirma Salomão em Eclesiastes 3.2. Não temos duas ou três vidas para vivermos, apenas uma e esta tem que ser vivida com intensidade. Não se furte ao direito de viver. O tempo está passando e implacavelmente não voltará atrás. Faz-se necessário vencer o medo de fracassar. Mas talvez você se pergunte, e se eu fracassar? Sinceramente, não há problema nisso, até porque o fracasso pode ser uma oportunidade de fazer melhor, mais bem feito.
     Viver procrastinando é tentar evitar o fracasso, mas nós fomos criados por Deus para algo muito maior do que simplesmente evitar o fracasso. Como afirma Pascal: “Assim, nunca vivemos, esperamos viver”. Não passe o resto da vida em fuga, viva!


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." (William Shakespeare)


Pr. Hilquias

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crise de Integridade

“Fez ele o que era reto perante o Senhor; não, porém, com inteireza de coração.” II Crônicas 25.2



Este texto faz menção a Amazias, um jovem de 25 anos que assumiu o reinado em Jerusalém. A Bíblia é clara em dizer que ele fez o que era reto aos olhos de Deus, mas havia um problema, aliás, um grande problema, Amazias tinha um coração dividido, fragmentado, faltava-lhe integridade. A expressão “inteireza de coração” pode ser traduzida por “sinceridade” ou ainda, “perfeito”. No dicionário Michaelis, o adjetivo “íntegro”, denota “inteiro”, “completo”, “reto”, “imparcial”.  Em determinadas situações,  não  importa o que fazemos, mas com que motivação fazemos. Fazer o que é reto, é mais que obrigação de alguém que ama a Deus e que se entende discípulo de Jesus; mas ter o coração totalmente envolvido no Senhor, portanto, inteiro, sincero, íntegro, é a mais perfeita manifestação de adoração.
Vivemos um tempo de fragmentações: pessoas fragmentadas, famílias fragmentadas, fé fragmentada. Um das marcas inconfundíveis desse tempo é  a presença do humano de coração sempre dividido; como que vivendo na corda-bamba, se equilibrando entre o público e o privado, sempre assumindo papeis distintos em cada uma dessas áreas. A impressão que fica é  que duas personalidades completamente antagônicas, distintas habitam o mesmo ser. No público, ou seja, no trabalho, na faculdade, na igreja, na sociedade de forma geral, apresenta-se e firma-se um tipo de sujeito, sendo que este não é reconhecido como tal na vida privada, ou seja, na família; trata-se de outra pessoa completamente diferente. Na vida pública é educado, amigo, paciente, cortês, honesto, respeitador, atencioso, liberal; mas na vida privada, na família, é desleal, grosseiro, ofensivo, evasivo nas palavras, intolerante, desatento, egoísta etc. É comum percebermos certa frustração estampada no rosto de pais, cônjuges, filhos que não conseguem assimilar tamanha falta de integridade.  Alguns engolem com muita dor e indignação elogios destinados aos seus entes queridos, pois tais elogios não correspondem à verdade e não é compatível com a experiência na privacidade do lar.
O pior dessa história, é que esta condição se estende à relação com Deus, com a Igreja. Corações divididos, almas divididas! Enquanto tenta se afirmar como adorador, servo leal, discípulo de Jesus, enquanto se expressa “culto” a Deus nas grandes celebrações, mas simultaneamente e paralelamente, prostitui a fé, o caráter, os valores cristãos; negociando as verdades mais nobres do evangelho, vivendo dissolutamente, levianamente quando se está fora dos arraiais da fé, do templo, nas mais diversas relações sociais.
Esse tempo clama por integridade daqueles que dizem amar a Deus. E sinceramente, para resgatar a integridade perdida, será preciso mais que boa vontade, uma verdadeira revolução de caráter, uma reinvenção de nós mesmos, uma reaprendizagem de quem somos de fato e de quem queremos ser diante de Deus e das pessoas que amamos. Precisamos de um milagre!
Amazias é “representante” de muitos homens e mulheres, que nesses dias vivem norteados por um coração dividido e que desconsideram a integridade.
É certo que ocupamos papeis sociais diferentes e nos comportamos mediante esses papeis. O pai, o marido, o empregado, o patrão, o aluno, o cristão etc, são papéis diferentes e que exigem de nós posturas diferentes, no entanto, nosso caráter precisa ser o mesmo independente do lugar que ocupamos.
A Bíblia Sagrada afirma: “Aborreço a duplicidade, porém amo a tua lei.” Salmos 119.113. O salmista é categórico em dizer que não suporta conviver com pessoas falsas, que governam suas vidas num complexo esquema de “faz-de-conta”. É preciso romper que esse modo doentio de viver e buscar em Deus Integridade.
Não se permita viver dividido, fragmentado, pois o melhor de Deus habita na integridade, na inteireza de coração. Ser íntegro é não usar máscaras, mas ao contrário, é ser a mesma pessoa no coração, na mente e nas ações. Integridade é ser inteiro, não-dividido.
Se você se percebe fracassando nessa área, busque a Deus, clame, chore, ore, mas não abra mão ser inteiro. Trabalhe essa sua fraqueza, persista e não se renda até que ao final a integridade deixe de ser um alvo e torne-se um estilo de vida.
“Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele”.  II Crônicas 16.9

Quer um desafio diário? Tente a integridade.  Kléber Novartes

Pr. Hilquias

sábado, 13 de novembro de 2010

O Poder das Escolhas

“Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição” Deuteronômio 11.26

  De certa forma temos a vida que escolhemos ter. Nossas escolhas no passado nos conduziram ao lugar que hoje nos encontramos. É obvio que um grande número de conseqüências está para além de nossas escolhas, portanto, é também óbvio que coisas ruins acontecem a pessoas boas, como por exemplo, aqueles que foram vítimas de catástrofes naturais: terremotos, enchentes, furacões, dentre outros; e coisas boas acontecem a pessoas ruins, como filhos que herdaram fortunas de seus pais, depois de anos de maus tratos e violência. Mas é importante entender que este princípio do “acaso” não anula o princípio do livre arbítrio, da escolha.
  Bênção ou maldição são opções de vida! Deus põe diante de nós o poder de decisão sobre nossa própria existência e consequentemente sobre os frutos que colheremos no futuro.  
  Uma escolha define tudo, uma escolha redefine tudo, constrói, reconstrói ou destrói. O poder da vida e da morte está no poder das escolhas. Pelas escolhas cria-se, luta-se, vive-se; pelas escolhas entrega-se, assombra-se, morre-se. A maior de todas as armas está dentro de nós, dependendo de nosso livre arbítrio, ao pensar e ao abrir a boca, declarar e escolher o que fazer. Uma escolha define tudo!
  A falta de direção, de razão, de discernimento move o coração ao cume das escolhas mais insanas e transforma a vida num deserto sem oásis. Como seria bom se as escolhas fossem feitas na ótica no pleno conhecimento, da convicção inabalável. Mas isso não é verdade, pois o senso comum aponta para o absurdo da leviandade e do imediatismo pragmático, ou mesmo do emocionalismo inconseqüente, quando se faz a maioria das escolhas da vida. Na verdade tudo é uma questão de visão. Como nos enxergamos, como enxergamos o outro, a vida e o tempo. É assustador, mas corremos demais para parar e pensar antes de efetivar uma escolha e curiosamente perdemos tempo tentando saídas enquanto nossas escolhas nos levam ao caos. É preciso ver mais longe! Nossos olhos se parecem com faróis antigos que se impõem na mais densa neblina, por mais que se faça força e tente, o máximo que conseguimos é enxergar metro a metro, sem noção do perigo na próxima curva. É preciso enxergar mais longe! A vida é feita por escolhas! Por elas somos o que somos e fazemos daqueles que nos cercam o que são.
  Pela incapacidade de assumirmos posicionamentos éticos e corretos, fazemos a vida girar bem ligeiro, para tentar praticar a negação e esconder de nós mesmos e de quem nos ameaça o porquê estamos onde estamos; o que nos levará ao passado, às escolhas mais apressadas que fizemos, sem perceber sua repercussão no tempo e no espaço. A vida é feita por escolhas!
Tarde demais! Às vezes essa expressão grita no peito. O tempo não volta, não para, não desacelera, o tempo é senhor de si mesmo, impera contra a vontade daqueles que acham que podem domá-lo. Voltar no tempo não gera o novo, apenas remoe o velho e na melhor das hipóteses, a atitude que talvez faça a diferença é redefinir as escolhas e contar com a generosidade do tempo e da graça de Deus, transformando o hoje e o agora, e sonhando com o reflexo no futuro. Se a manutenção do velho é tudo o que conseguimos, se a esperança no novo é árvore velha longe das correntes de águas, refletindo fragilidade e prazo curto de vida, então um dia podemos acabar dizendo; Tarde demais!
  Mesmo que suas escolhas tenham sido pautadas nos erros mais bárbaros, portanto, geradoras de dor, de fracasso e frustrações; nunca será tarde demais para um Deus que pode chamar à existência o que ainda não existe; para um Deus cheio de graça e misericórdia. Não dá para mudar o passado, mas podemos reconstruir o hoje e colher os benefícios dos milagres de Deus no futuro bem próximo.
 Tente enxergar a vida pela ótica de Deus, pela fé, pela esperança e com os pés no chão e coração no céu, reflita sobre suas possíveis escolhas e as faça com segurança.
A vida se define pelas escolhas!
Se defina!
Não basta respirar, é preciso viver!
Faça a vida valer à pena!

"Deleita-te também no SENHOR, e te concederá os desejos do teu coração."  Salmos 37.4

“A morte é mais universal que a vida; todo mundo morre, mas nem todo mundo vive.”  Alan Sachs


Pr. Hilquias


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Qual o valor da família?

“E depois dele Samá, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram numa multidão, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugira de diante dos filisteus. Este, pois, se pôs no meio daquele pedaço de terra, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou um grande livramento.”  2 Samuel 23.11,12

A Bíblia Sagrada ao mencionar a história de Samá e seu campo de lentilhas, e mais ainda, ao mencionar sua postura de defesa e de luta em relação a este campo, nos remete a pensamentos profundos a respeito dos reais valores da vida. Duas coisas são relevantes: primeiro o fato de que lentilhas não eram de grande importância econômica naquela época; segundo, o campo na verdade, era apenas um pedaço de terra. Mas o que levaria um homem a arriscar sua própria vida, se em tese o que estava em jogo não significava muito, levando em consideração as convenções sociais que ditavam as regras do que era ou não valioso. Na verdade, o valor da coisa não reside na própria coisa, mas no que sobre ela atribuímos de afetos. Para Samá, sua pequena plantação estava carregada de sentimentos. Poderia não valer absolutamente nada para ninguém, mas valia muito para ele. Primeiro porque certamente havia uma clara compreensão que se tratava de uma dádiva de Deus; segundo, porque tinha muito dele naquele lugar. Abrir mão de seu campo de lentilhas seria ingratidão para com Deus e uma afronta a si mesmo. O valor atribuído por Samá a esse campo tornava-o precioso e o fazia subir de categoria, de um simples campo, de uma simples plantação, para o seu mundo, o seu tudo, sua vida.

Pensando na família e suas representações na atualidade, percebe-se que a mesma está enfrentando um completo esvaziamento de sentido. A família deixou de ser um porto seguro, e tornou-se um ponto de ônibus, um lugar de passagem, um lugar de movimento. Habita no imaginário social, certa hostilidade ao ideal família, transformando-a numa “coisa” descartável, sem muito significado, portanto quase fútil. É obvio que me refiro não ao discurso, pois este parece intacto, e ainda defende a família, mas falo a partir do modo de funcionamento da família contemporânea, suas práticas, seus reais vínculos, suas escolhas, seus valores.

A Bíblia diz: “Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”.  Lucas 12.34. Nossas lutas, nossos enfrentamentos ganham força à medida do engajamento e envolvimento de nosso coração e o quanto de valor atribuímos ao “bem” pelo qual lutaremos. Eu vejo hoje a família como o campo de lentilhas de Samá, não tem muito valor pra muita gente, mas precisa ter valor para nós que vivemos debaixo do temor de Deus e entendemos o real propósito da família. É na família que nosso caráter é formado, nossos valores são construídos; é na família que aprendemos em primeira instância o sentido de uma boa amizade, de um abraço, de um sorriso; aprendemos a importância do respeito, da tolerância para com a diferença, é na família que somos levados a valorizar a vida. A família é de fato nossa primeira sociedade. Quem desqualifica a família, desqualifica-se a si mesmo enquanto ser social e se apresenta diante do mundo alienado e despreparado para enfrentá-lo. O caos social que experimentamos hoje pode ser justificado por vários caminhos, mas sem dúvida a desvalorização da família ocupa destaque.

Se a seguinte pergunta fosse feita: A família tem dignidade? É possível que muitos respondessem que sim e até ousasse dar algumas explicações ou até justificativas. Mas como diz Kant (Fundamentos da Metafísica dos Costumes): “Tudo tem ou bem um preço, ou bem uma dignidade. Podemos substituir o que tem um preço por seu equivalente. Em contrapartida, o que não tem preço, e, pois, não tem equivalente, é o que tem dignidade. A família tem preço? Se tiver, então tem equivalência, portanto, pode ser trocada, negociada. A família tornou-se produto de mercado, podendo ser permutada por qualquer coisa, ou vendida por quase nada. Em troca de uma carreira profissional bem sucedida, acumulação de bens, ascensão social, aventura amorosa, viagem de negócios; ou ainda por coisas mais fúteis como: um time de futebol, uma escola de samba, um grupo de amigos etc. Troca-se a família por quase nada, sustentado por um discurso de liberdade e autonomia.  Se a família é digna então não deveria estar à venda, ao contrário, deveria ser motivo de nossa luta e nos levar cheio de satisfação ao campo de batalha cotidiano, sem qualquer medo de arriscar nossa própria vida.

Mesmo que ecoe nos discursos vazios a proclamação de sua falência, a família tem valor insubstituível, inegociável, o valor da dignidade. Cuide de sua família, lute por ela e não a exponha em vitrine de liquidação.

“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” 1 Timóteo 5:8

Pr. Hilquias